O Concerto
AL-MU’TAMID, POETA REI DO AL-ANDALUS (1040/1095)
Uma Viagem por dez séculos de música e interculturalidade.
Project Presentation from Carlos Gomes on Vimeo.
Um projecto audiovisual que tem como principal objectivo iluminar no presente uma entidade territorial e cultural - o Al Andalus - através da vida e da obra do Poeta Rei. Actualizando o sentido das palavras de Al-Mu'tamid, um conjunto de músicos e intérpretes cantam os seus poemas nas línguas dos três países herdeiros do legado andalusino: Filipe Raposo, Janita Salomé e Quiné Teles de Portugal; Eduardo Paniagua e Cezar Carazo de Espanha; El Arabi Serghini e Jamal Ben Allal de Marrocos. O concerto é acompanhado pela projeção de imagens que documentam a viagem pelo território da sua vida, por onde hoje se estende o legado andalusino, testemunhando e atualizando todo o imaginário de uma relação territorial e cultural secular.
Al-Mu’tamid Ibn Abbâd é considerado o mais brilhante poeta do Al-Andalus no Séc. XI. Nasceu em Beja em 1040 e foi príncipe regente em Silves, ambas as cidades hoje situadas em território português. Entre 1069 e 1090 foi Rei da Taifa de Sevilha, sucedendo a Al-Mu’tadid, seu pai. Após ter sido destronado em 1091 pela dinastia Almorávida, que passou a controlar todo o Sul da Península Ibérica, foi primeiro exilado em Tânger e depois levado para Aghmat, 18 km a Sul de Marraquexe, Marrocos, onde passou os últimos anos da sua vida, preso e desterrado, acabando por falecer, na maior das misérias, em 1095.
O que é especial na sua condição de poeta é ter sido também Rei, o que naquela época lhe permitiu escrever com grande liberdade e ao longo de toda a sua vida, mesmo depois de destronado, sobre ele próprio e o mundo em que viveu; e de forma tão aberta que chegamos a pensar poder estar a escutá-lo agora, intemporal, segredando-nos à luz da contemporaneidade, as questões mais essenciais do ser. É essa a razão porque as suas palavras ainda hoje, passados dez séculos, nos tocam profundamente, dando-nos a partilhar a sua intimidade e presença de espírito, envolta em sensibilidade, sensualidade e paixão por viver.
O projecto no seu todo inclui um concerto acompanhado de projeções vídeo, a edição de um CD com o repertório do concerto, já disponível no mercado desde o dia 9 de Março de 2015, e ainda a ideia de realizar um filme documentário a estrear em 2018.
A partir de uma ideia original de Carlos Gomes, realizador e arquitecto, e do convite que este dirigiu a Filipe Raposo, pianista e compositor, para assumir a direção musical do projeto, reuniram-se os músicos: portugueses, espanhóis e marroquinos. O reportório tocado e gravado em CD reúne temas originais que resultaram do processo criativo a partir dos poemas de Al-Mu’tamid, mas também alguns temas já anteriormente gravados agora com novos arranjos. Os temas já anteriormente gravados por alguns dos músicos que integram o projecto, valorizam-no na medida em que poem em evidência a estreita relação do percurso musical de cada um dos seus autores com o lastro do legado musical andalusi. O repertório é cantado nas três línguas dos 3 países que hoje integram a herança cultural do Al-Andalus - Portugal, Espanha e Marrocos - sendo algumas das canções cantadas em mais do que uma língua.
Num tempo em que se assiste a fortes clivagens culturais e religiosas, alimentadas por velhos e novos conflitos político-territoriais, é particularmente pertinente reavivar os valores de um legado cultural que deve a sua longevidade precisamente à diversidade de povos e culturas, religiões e cultos, tradições e costumes, tecidos ao longo de séculos de convivência, de cruzamentos e de reciprocas influências. Realizar esta possibilidade através deste grupo de músicos e da linguagem universal que a música constitui, vincula uma verdadeira mensagem de paz.
A IBN AMMÂR